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As Narrativas Digitais Guiam as Massas

Acompanhando alguns criadores de conteúdo online, é interessante perceber a criação do personagem. No mundo moldado pelo Capital, a imagem pessoal também é um produto. Por isso, os indivíduos que querem se vender na internet precisam criar uma imagem… ainda que ela não seja verdadeira.

Recentemente ocorreu um caso aqui em Minas, em que um criador de conteúdo - o qual me abstenho de citar o nome - entrou em uma discussão com um motoboy e isso causou polêmica nas redes. O sujeito se posiciona como uma pessoa cristã e de bons costumes, mas, como todo bom ser humano que é, perdeu as estribeiras e acabou agredindo um motoboy que havia ultrapassado um suposto sinal de parada obrigatória no calor do momento.

E quando o faixo da verdade ilumina a humanidade cuidadosamente ofuscada, é que se inicia a guerra de narrativas. Além disso, essas narrativas convencem a maioria dos seguidores dessas pessoas, que conhecem muito bem seu público, suas crenças, valores e costumes.

A internet criou um fenômeno que às vezes se assemelha muito a uma seita, onde os “seguidores” dos ditos “influencers” - terminologia a qual não consigo deixar de detestar - não encaram o conteúdo como uma opinião ou uma narrativa, mas como um fato.

E a fé cega domina as redes, aumentando cada vez mais o séquito de seguidores cuja crença muitas vezes extrapola o bom senso.

Parafraseando Ray Bradbury, no livro Fahrenheit 451 - obra essa que chega a espantar de tão atual:

Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê-lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum. […] Se o governo é ineficiente, déspotico e ávido por impostos, melhor que ele seja tudo isso do que as pessoas se preocuparem com isso.

Ontem eu li um post no blog do Felipe Siles em que faz uma análise do quanto tem sido insuportável viver no Brasil. Não posso concordar menos!

Vivemos em uma espécie de distopia tupiniquim moldada por tecnologias proprietárias de grandes corporações vindas países imperialistas onde o produto são as pessoas e, melhor ainda, a sua ignorância.

Enquanto os seguidores aplaudem e saúdam seus líderes “influencers”, somos diuturnamente desrespeitados em nossos direitos fundamentais, em nossa dignidade enquanto trabalhadores. É um circo!

Enquanto os palhaços dançam, o circo pega fogo e todos riem com os olhos vidrados em suas telas, inconscientes de que estão eles dentro do próprio circo que ajudam a manter.

Encha as pessoas com dados incombustíveis, entupa-as tanto com “fatos” que elas se sintam empanzinadas, mas absolutamente “brilhantes” quanto a informações. - Fahrenheit 451

Enquanto isso, esses mesmos palhaços se candidatam a cargos políticos, falando o que o público quer ouvir, vendendo seus produtos por meio da atenção e da ignorância alheia.

Refletir incomoda, mas é preciso.

Não as coloque em terreno movediço, como filosofia ou sociologia, com que comparar suas experiências - Fahrenheit 451

Este texto é uma opinião minha e não me considero, em hipótese alguma, a voz da verdade. As minhas postagem possuem única e exclusivamente a intenção de se fazer refletir sobre o nosso mundo, ideias e sociedade.

Esta postagem está licenciada sob CC BY 4.0 pelo autor.